Se eu voltasse atrás...

M. Lopes

E assim, de súbito, cheguei aos vinte e três. O sentimento envolto em tal facto é estranhamente bizarro - na minha cabeça ainda não superei a barreira dos dezanove. Porquê os dezanove? Não sei, não faço ideia, mas parei aí, isso é certo. De tal forma que, quando me perguntam a idade, há uma parte de mim, aquela que insiste em resistir à passagem dos anos, que pensa imediatamente nos dezanove, mas fico calada nesse instante. Porque a outra parte, a que se encarrega de analisar a realidade, avisa que o tempo tem passado de facto. E aí respondo. Mas não esboço grande satisfação, naturalmente. Vinte e três são quase vinte cinco, o que se aproxima dos trinta. Isso é tremendamente assustador e não me digam que não. Estou cada vez mais como o outro: "se eu voltasse atrás por minha vontade, trocava alguns anos desta vida por um só dia na tua idade". Os mais velhos dir-me-ão o mesmo a mim.

Em todo o caso, esquecendo o lado que não gosta do avançar dos anos, o outro lado está completamente sereno e feliz, ou não tivesse ao lado a melhor companhia do mundo!